Bola a rolar no relvado da Tapadinha
À entrada os polícias fumavam enquanto revistavam os adeptos, que iam soltando impropérios contra a direcção - tais como "nem merecem a água que bebem" ou "este clube de merda devia era acabar" - pela falta de organização na venda dos bilhetes. Após a actuação do Grupo de Percussão da Ajuda, iniciou-se o desafio, que foi uma autêntica "pelada" digna de Distrital, com direito à actuação de um árbitro alentejano incompetente (apelidado de Cabeça de Cabrão) que foi muito contestado pelas boas gentes de Alcântara. Os principais motivos de interesse vinham da bancada, com um grupo de adeptos a colocar constantemente em causa a masculinidade do lateral-direito do Setúbal e a profissão da mãe do fiscal-de-linha. Em campo, sucediam-se falhanços hilariantes e simulações de faltas grotescas, que, juntamente com o habitual adepto louco que percorre o peão a dar indicações aos jogadores, provocavam gargalhadas fáceis dos dois lados da barricada.
O treinador de bancada
O ambiente, quase sempre decontraído, só aqueceu duas vezes. Primeiro por causa de um incêndio na mata circundante ao estádio, que o valoroso Regimento de Sapadores Bombeiros apagou rapidamente. Depois por causa de um comentário de um adepto do Atlético, que disse a alto e bom som: "este árbitro é tão mau que devia descer de divisão...era ele e o Setúbal". Pairou no ar um espectro de violência, mas os insultos acabaram por ser maioritariamente verbais, com especial incidência na discussão sobre o que era melhor: Casal Ventoso ou Bairro da Bela Vista, e na provocação fácil aos sadinos do "não se preocupem que isto não é a Luz para levarem oito!".
O fumo do pequeno incêndio na mata
No final, o Vitória venceu por 2-0 e os adeptos, maioritariamente pescadores ou taberneiros de choco frito, promoveram um sonoro buzinão, mesclado com grandes sucessos do Toy, pelo bairro de Alcântara fora. Quanto aos adeptos da casa, ficaram a afogar as mágoas no Bar, que só tinha aberto ao intervalo por causa de uma louca aventura do dono com uma "Órasmus" espanhola na noite anterior. Por SMS, fiquei a saber que o Belenenses-Oriental tinha terminado 3-1 a favor dos Pastéis...tal como a Tapadinha, que jazia deserta, também eu estava um pouco nostálgico por não poder apreciar um Atlético-Oriental (o dérbi Ocidente-Oriente da cidade de Lisboa) naquelas bancadas, a contar para a próxima ronda da única competição que nos dá futebol genuíno.
As velhinhas e degradadas bancadas da Tapadinha
Adeus e Obrigado!
5 respostas:
À mesma hora desse desafio, encontrava-me no Restelo, onde pude assistir a uma lição de bola do Oriental, a uns azuis "bem verdes". As expulsões são discutíveis, mas aceitam-se, embora num jogo daqueles, o critério deva ser mais largo.
Algumas notas:
- o Oriental também também um Adebayor lá do sítio, o homem é igual
- o guarda-redes é razoável, mas encantou toda a gente com um boné vermelho, que tirou numa saída da baliza, para cabecear a bola para fora
- num pontapé de canto, há um gajo que toca a bola e foge da zona, permitindo que Barge atire a bola para fora
- troca de mimos de bancada para bancada entre ambas as claques, no final do jogo "deviam estar na segunda, somos mais que vocês, só ganham na secretaria e na arbitragem", enfim... uma tarde de Taça
Epa ainda bem que referiste a história do Adebayor, até porque o Atlético apresentou ontem um tipo chamado Nuno Gomes (!), que é uma espécie de Ouattara da Tapadinha. Os confrontos que teve com o Zoro na primeira parte - o treinador do Atlético, incompreensivelmente, tirou-o ao intervalo - provocaram pequenos sismos em Alcântara.
Ahahah que belo relato do que parece ter sido uma tarde preenchida de domingo!!
Uma descrição pefeita que traz à memória enormes clássicos do nosso futebol, como o caso desse rocambolesco Belenenses vs COL. Uma palavra de apreço para o meu Desp. de Chaves - velho amigo da I Divisão - que também seguiu em frente. Houve festa na Taça!!
Amigo Rúben, não posso deixar de concordar contigo nos parabéns ao Desportivo de Chaves. Já tenho saudades dos tempos em que os grandes visitavam o velho Municipal e passavam dificuldades. Lembro-me também dos jornais terem sempre o mesmo título nos jornais a serem sempre:"Para lá do Marão mandam os que lá estão". Que o sorteio dite a visita de um grande, que as boas gente de Chaves bem merecem!
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