Após ter assistido "in loco" à goleada do Benfica sobre a Académica, fui convidado por um amigo para ir assistir ao Vitória de Setúbal-Sporting. Não é fácil tomar a decisão de ir ao Bonfim, pois há uma linha muito ténue entre o prazer e o sofrimento ao assistir a um jogo naquele estádio, mas lá aceitei ir. Não estava à espera de me deleitar com lances como a chapelada do Saviola, até porque o meu conceito de "futebol" não passa de uma miragem para os lados do Sado. Mas neste caso a culpa não morre solteira, até porque o adversário se chama Sporting e continua fraquinho de meter dó.
Ir ao Bonfim é como ir a um local que parou nos anos 80: as bancadas são decrépitas, as instalações ultrapassadas, o frio (acreditem) é ainda mais frio e até o marcador do estádio ainda necessita de um velhote para colocar as placas com o número de golos. Se na véspera me tinha deleitado com as qualidades de Cardozo, Saviola, Aimar e Ramires, ali estava eu a assistir às performances de Djikiné, Zoro, André Pinto, Keita e companhia. Do outro lado a coisa não estava melhor, e apesar dos nomes, teoricamente melhores, o Sporting também brindava o público com um espectáculo medíocre. A certa altura, pensei que o jogo consistia em ver quem chutava a bola mais alta com o objectivo de ganhar um cabaz de Natal.
Se ir a Setúbal, é regressar por 90 minutos à saudosa época do Gigante de Betão da Luz - anos em que o futebol era um espectáculo mágico aos meus olhos de puto -, também é sofrer com uma das torcidas mais incomodativas que este país tem para oferecer, naquilo que parece ser um aspecto partilhado entre os Vitórias de Portugal. Eles gritam, eles ofendem, eles incitam as crianças a usar todo o vernáculo que aprendem nos fins de semana de faina e até umas míudas dos seus 15 anos passeiam-se junto do relvado insinuando-se aos trintões "tunings" de cabelo espetado e blusão de ganga justo. Depois de uma interminável sessão de ofensas aos pobres jogadores da casa, o jogo termina sempre da mesma maneira, com adeptos exaltados a baterem nos vidros das cabines de imprensa acusando a imprensa de só se preocupar com o...Benfica, que nestes campos é sempre alvo de uma imensa destilaria de ódio.
O segundo golo do Sporting - uma obra de arte de amadorismo - relembrou-me que o Setúbal está provavelmente condenado à extinção, cenário que está demasiado presente quando juntamos todas as peças do puzzle que vão da logística à crónica crise financeira passando pela incompetência de sucessivos quadros directivos. O árbitro apitou pouco depois, e enquanto as torcidas se insultavam mutuamente, gratuitamente, deixei-me ficar na bancada até o estádio ficar completamente vazio. As luzes apagaram-se pouco depois e fiquei por ali na companhia dos poucos jornalistas que terminavam as suas crónicas à ténue luz dos portáteis. O jogo tinha sido mau demais para ser verdade, e num piscar de olhos imaginei a tareia que o Sporting teria levado se jogasse contra estes gajos:
A mítica camisola com o patrocínio da Ariston - agora os jogadores usam um patrocínio das "Tortas de Azeitão" espetado no rabo-, vestida por homens como Chiquinho Conde, Rui Carlos, Quim, Yekini, Hélio (ainda de bigodaça) e Eric. Mas tal como a salvação do Setúbal, o regresso destes heróis não passa de um sonho distante.
Adeus e Obrigado
11 respostas:
Ao lado do Hélio está o Figueiredo.
Lembro-me bem desses mesmos jogadores terem espetado (expressão à Lá Coentrão) 5-2 ao Benfica.
Sem dúvida este actual plantel do Vitória não tem o nível de uma Liga Vitalis, talvez muitos nem seriam titulares em equipas da II divisão.
O Manuel Fernandes não devia ter pensado tanto no dinheiro, mas pronto.
Quanto ao Sporting, foi mais do mesmo, nem aproveitou o facto de estar a defrontar o plantel mais fraco da Liga Sagres nem o facto de ter marcado logo no inicio. E continuou a jogar o seu futebol sem qualidade, sem chama, sem nada. Foi muito fraquinho mesmo.
O nosso plantel é demasiado fraco, para pensar que eles algum dia darão um salto qualitativo a nível do futebol jogado. Principalmente os laterais (que nem passam do meio-campo), a juntar á fraca qualidade do Moutinho que é um 0 a todos os níveis, técnica, passe, remtate etc. Torna o futebol do Sporting uma miséria que eu nunca tinha visto.
Tens toda a razão caro Pedro. Esta parece ser uma época para esquecer para os dois emblemas verde e brancos.
Lembro-me bem desse 5-2 de que falas. Ouvi pela rádio - na época não havia cá transmissões televisivas - e ficou-me na memória o relato entusiasmado do locutor acerca da exibição de Yekini, que uns meses depois lá estava no USA'94 agarrado às redes.
Gosto muito do pormenor do guarda-redes anão, José Carlos, que não era o titular da altura, porque no plantel estava o grande Tomislav Ivkovic.
Esta é uma descrição bem fidedigna do que se passa no Bonfim.
Eu também já lá assisti a uns jogos, a convite de amigos e fiquei com essa mesma impressão, caro Nuno Silva.
Epá, na minha opinião o estádio e o clube são só o espelho da própria cidade de Setúbal que parece congelada no tempo. Envolta numa áurea nostálgica e depressiva. Valha-nos o choco frito! Aliás, não é por acaso que Setúbal é a cidade portuguesa com a mais elevada taxa de suicídio, basta lá ir para se ficar tentado...
Bem lembrado Miguel. O clube é um espelho da cidade, que, pessoalmente, acho horrível. No entanto, também é justo referir que as cercanias da cidade de Setúbal têm das melhores coisas que este país tem para oferecer. Mas se há clube que está igualmente na corda bamba, é o Belenenses, sobre esse prometo um trabalhinho em breve.
Não se pode esperar muito mais de uma equipa formada por jogadores criados bairro da Bela Vista, com qualificações a nível de furto automóvel. Aliás, diz-se por aí que muita da depressão futebolística que algumas equipas têm vindo a sofrer,é justificada pela pouca vivacidade que as cores verde e branca transmitem.
Estou para ver esse trabalhinho sobre o grande Belém, uma equipa que parece ser tão simpática...
eu devo ser um ganda asno futebolistico, ou então só extremamente tendencioso ao ponto de ficar com a propria visao distorcida, o que tambem é possivel.
O jogo nao foi bom, é um facto. Mas já vi um Sporting a trocar mais a bola depois do meio campo, com mais qualidade e velocidade, um Liedson mais apoiado e jogadores a subir de forma. Os laterais sao fracos, mas são os mesmos há 2 ou 3 anos, por isso acho que já sabiamos o que tinhamos em casa. O Abel é capaz de melhor, já se viu isso. O Caneira nao é lateral e se calhar fazia melhor figura do que o Polga, essa inexplicavel vaca sagrada. Há no entanto um coisa que falta ao Sporting: meter a bola lá dentro... ter que contar com Postiga, Caicedo e Saleiro é demasiada esperança pra tao pouco verde. Outro que não me está a agradar e que espero que a sua utilizaçao seja temporária é o Adrien. Falha mtos passes e dá mta cacetada. Acho que Veloso e Moutinho no meio, Vukcevic, Matias e Izmailov atras de Liedson há-de ser a equipa ideal. Lá atrás é que fica mais difícil pois nao há opçoes. Abel, Caneira, Carriço e um bom lateral esquerdo (daqueles que no Brasil há aos pontapés) à frente de um Rui Patrício que me está cada vez a calar mais.
saudaçoes leoninas!
És extremamente tendencioso ahah. A equipa até pode trocar a bola, mas criar três, com boa vontade, quatro oportunidades de golo contra este Setúbal é muito mau para uma equipa com os pregaminhos do Sporting. O único jogador que, enquanto esteve em campo, acelerou o jogo foi sem dúvida o Matigol, que me parece estar a subir de forma. Realmente há melhoras em relação a algumas exibições, mas passar de 0 para 1 não chega.
O Bayern tal como eu desejava arrumou a Juventus.
E desejava isso, pois não queria nada os defrontar na Liga Europa, e não digo isto por causa da má memória da época passada, mas sim por que considero, tal como anteriomente aqui o referi, que o Bayern tem um dos 5 melhores plantéis do Mundo.
Quanto à equipa base do Artur Monteiro, não consigo concordar com essa inclusão do Abel (que é um jogador demasiado vulgar para vestir a camisola do Sporting) e do Moutinho (que é claramente uma invenção dos jornais, pois a sua qualidade como homem e futebolista é 0).
A imagem demonstra algo que hoje também já não se verifica que é o facto do estádio do Bonfim estar cheio. E apesar do Setúbal nem ser das equipas que mais se possa queixar desse pormenor. Faz-me um pouco confusão ao ver a RTP Memória os jogos da 1ª metade da década de 90, com estádios quase cheios e com um público vibrante e aguerrido, principalmente o Mário Duarte em Aveiro, e o do Leiria. E hoje tudo isso desapareceu.
O futebol é actualmente um luxo. O preço dos bilhetes que é imposto pelos clubes, não é suportável pela maioria dos adeptos que estava disposto a sentar-se numa bancada de betão com chuva ou com sol.
Pegando no teu exemplo, Leiria e Beira-Mar jogam em estádios completamente desajustados da sua realidade, na presença de 200 ou 300 pessoas por jogo, que não geram receita para a manutenção de dois elefantes brancos e que levam os clubes ao caos financeiro...o Beira-Mar nem tem a certeza se vai terminar a época e quer voltar ao Mário Duarte.
Olhem só para os preços do jogo do Olhanense com o Benfica que variam entre 35 euros (o mais barato) e 60 (o mais caro), isso para não falar no aproveitamento dos clubes pequenos em vésperas dos últimos campeonatos conquistados por Benfica e Sporting.
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